SEMIÓTICA em REA
O PROJETO
PROBLEMA\DIAGNÓSTICO
A indisposição em relação à semiótica, ocasionada por falta de boa informação e preconceito, aliadas à complexidade do conteúdo, é uma das barreiras enfrentadas por estudantes que buscam o conhecimento desta ciência, que exige do aluno concentração e atenção para desenvolver a capacidade de percepção e raciocínio. A velocidade de aprendizagem do aluno precisa ser exercitada e a falta de um material de apoio criativo que facilite a compreensão e estimule a capacidade de compreensão pode ser crucial para desnaturalizar a representação imposta ao longo de uma vida pelo senso comum.Inicialmente focado no curso de Comunicação Social, assim como as demais áreas da educação que se bem utilizam do conteúdo de semiótica, acredita-se que é possível atingir a comunidade leiga com um material estrategicamente bem desenvolvido, para que não somente alunos com deficiência de aprendizagem possam utilizar este suporte de apoio para entender o conteúdo, mas também para que a comunidade que não possui conhecimento possa compreender o raciocínio perpassado por esta área de saber, que não é atingida por um recurso educacional aberto de qualidade.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Se o mundo lhe parecer pouco poético
Não culpe-o; busque compreender
o que há em você que lhe impede
de ver a poesia.
Rainer Maria Rilke[1]
Rilke, um poeta da antiga Tchecoslováquia, já declarava em fins do século XIX aquilo que viria a ser o eixo central de uma das ciências mais ambiciosas da contemporaneidade, antes, é claro, de qualquer teoria semiótica sequer estar em estado de sugestão. O poeta era herdeiro do simbolismo, e para ele tudo no mundo era signo. Um significado se escondia na sombra de cada árvore inquieta. Sentidos brotavam de um lampião que, em meio a neblina da madrugada, se apagava para em seguida reascender. Para Rilke, assim como para Baudelaire, o visível da realidade escondia algo de mais obscuro, sentiam com todos os seus poros o invisível por trás do visível e, tal como o queriam os românticos, era o poeta quem possuía a chave de acesso ao absoluto.
A Natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam às vezes sair confusas palavras;
O Homem atravessa florestas de símbolos
Que o observam com olhares familiares.
(BAUDELAIRE)
Ao analisar o significado correspondente a palavra “poeta”, empregada pelos simbolistas, percebemos que ela não difere muito do que hoje chamaríamos de receptor. Não o receptor passivo restrito a codificação de mensagens verbais, mas este a quem o próprio mundo comunica. Para que o signo “receptor”, portanto, se afine com o “poeta”, é necessário que este disponha de interpretantes necessários para que as mensagens que mundo supostamente emana, sejam decodificadas e, no caso dos poetas, transmutadas em verso. Do contrário, incorreríamos no costume de tomar a vida por hábito, vendo na realidade eventos “insignificantes”. Perderíamos assim, defende Rilke, o espanto diante do real que nos possibilitaria mirar o mundo com o brilho nos olhos que detém as crianças. Esta relação possível entre a semiótica e a poesia surge na medida em que as duas tratam da nossa relação simbólica com o mundo. Ambas tratam da percepção que dele temos e de seus significados em estado de potência. Sua intimidade cresce quando concebemos que para referenciar tudo aquilo que percebemos do mundo sensivelmente, isto é, através do sentidos, necessitamos da linguagem. Neste sentido, Adair Peruzzolo declara a máxima de que “uma mensagem pressupõe mais do que diz expressamente”. Por isso, mesmo que o mundo seja uma “floresta de símbolos”, como bem o disse Baudelaire, é necessário que a consciência disponha de interpretantes para ser sensibilizada pelas mensagens, sejam estas uma poesia, uma pintura ou uma calçada imunda. Referenciando-nos em poetas, nossa abordagem da ciência semiótica parte do princípio de que é “poeticamente que o homem habita esta terra”, já o diria Hölderlin. Buscamos mostrar, assim, que a referencialidade da semiótica não está nela mesma, em sua própria lógica interna, mas em sua relação direta com o mundo que apreendemos a todo instante sensivelmente e, em seguida, por meio da linguagem. Esta visão harmoniza-se com a de Edgar Morin na medida em que este considera, em termos de metáfora, que a vida divide-se entre prosa e poesia. Prosa seriam todos os momentos tornados habituais por nossas consciências, a rotina diária, os meios de transporte, etc. Já os momentos poéticos seriam aqueles que verdadeiramente estimulam nossos interpretantes sensivelmente. Para Morin a felicidade é um conceito demasiado abstrato, sendo mais realista buscarmos em nossas vidas favorecer a existência dos momentos poéticos. Defendemos, com nosso projeto, que o estudo da semiótica é favorecê-los diretamente. Nossa abordagem interdisciplinar desta ciência, bem como o uso de humor, leveza e valorização da estética em sua exposição é resultado de nossa compreensão de que uma mensagem, por mais relevante que seja, para despertar o interesse e motivar a sua decodificação, deve vir sempre acompanhada de um meio que valorize suas potencialidades sígnicas adequando-o ao contexto de sua emissão. Consideramos esta perspectiva como podendo ser, inclusive, uma leitura possível da máxima de Mac Luhan “o meio é a mensagem”. Este meio que empregamos esforços para produzir perderia seu pretenso sentido de universalidade “poética” se fosse, de algum modo, restringido. Por isso, baseados fundamentalmente nos conceitos desenvolvidos por Andreia Inamorato acerca dos Recursos Educacionais Abertos, o material produzido vai te encontro com a tendência atual do livre compartilhamento de arquivos em prol da livre expressão do conhecimento. Motivou-nos para este processo a mentalização da imagem do conhecimento que era produzido, em conjunto, nas Ágoras, nas praças, na Grécia antiga. Transcendê-la foi o nosso objetivo, a linguagem utilizada destina-se a uma sociedade de inclusão, em que, diferentemente da velha Grécia, não há escravidão e a igualdade de gênero é uma batalha travada diariamente. A referência ao berço da filosofia ocidental não se restringe a isso, contudo. Valer-se de elementos sonoros e visuais para envolver e expressar um determinado conhecimento que se pretende legitimo, sério e compromissado com a verdade remonta aos filósofos monistas da era pré-socrática, ou seja, anterior a formação platônica do pensamento ocidental. Monismo se opõe ao dualismo, ou seja, em uma simplificação grosseira, nesta perspectiva não há dicotomia entre mente e corpo, eu e mundo, razão e emoção. Também não há dicotomia entre ciência e arte. O pensamento ganha asas em verso, e a pretensão em conhecer o mundo não se distancia da melodia de uma lira, ao contrário, é endossada por ela. Assim, esta união possível entre a arte e a lógica contribui para que não nos intimidássemos frente a possibilidade de usar elementos lúdicos e referentes a cultura da internet para tornar o conteúdo mais facilmente apreensível. Esta união de aparentes opostos é também dita, mesmo que de outra forma, por Adair Peruzzolo, nossa referência “setentrional”, quando este diz que:
Podemos dizer que a primeira e mais fundamental condição
para que aconteça a relação da comunicação é a percepção
do diferente. Por meio dele descobrimos e definimos a nós
próprios, constituímos sentidos e garantimos que a potência
da comunicação seja dada pelas forças vitais no exercício
da vida, que consiste, irredutivelmente, na busca pelo diferente
expresso no outro. (PERUZZOLO
Referindo-se assim, ao conceito de alteridade enquanto elementar para o estabelecimento de qualquer fenômeno comunicativo, Peruzzolo demonstra que sem o oposto, não pode haver diálogo. Mais do que isso, se alinharmos esta visão dualista com a monista anteriormente proposta, podemos concluir que o encontro entre dois elementos contrastantes, por serem fundamentais na constituição de ambas as identidades, deveria imputar, espontaneamente, em um relação de profundo respeito pelo Outro. Assim o diferente é visto enquanto ser que me constitui, e que portanto não é estranho a mim, mas, em uma visão monista, é parte de mim.
Esta relação ética fundamentada na alteridade, tão aprofundada por Levinas (2008), não dissolve as diferenças na dimensão do mesmo, mas as valoriza na medida em que propõe a igualdade na diferença. Neste sentido, a semiótica proposta no projeto é contextualizada no amplo fenômeno da comunicação, ato que, por si só, representa uma abertura para o outro. Não apenas para os signos que este me envia, mas para o outro enquanto presença, como bem lembra Peruzzolo “as pessoas não comunicam algo, elas SE comunicam EM algo”. (PERUZZOLO,
Ainda no mesmo tom, a filósofa americana Judith Butler considera que há duas formas de relação comunicacional. Na primeira delas há “uma relação entre dois indivíduos que tem suas convicções sobre si definidas e entram como quem quer uma visibilidade para o que foi decidido anteriormente”. Porém há momentos em que o reconhecimento pelo outro surge “não do intento de que este reconheça meus interesses e atributos como se ele os confirmasse, mas provém, inconscientemente, do desejo de que este me despossua”. Esta segunda relação seria aquela em que os dois termos se transformam, se desfixam e verdadeiramente se afetam.
Sendo assim, a semiótica pensada aqui, aberta para a sua dimensão poética, é um convite para a reconfiguração daqueles que com ela entram em contato. Por meio de uma abordagem monista que une a estética com a ciência, procura-se atingir os diferentes públicos no que estes possuem de comum: seja o uso de símbolos, a presença de afetos ou a própria vivência de ser e estar diante de um mundo que significa.
DESCRIÇÃO DO PRODUTO
A partir de deficiências encontradas mediante a aprendizagem da Semiótica, o Recurso educacional se apresentano formato de um vídeo e sua complementariedade em um material gráfico em PDF. Os roteiros e textos incluídos na produção do material foram construídos pelo grupo em colaboração com os professores participantes e um profissional de filosofia (ainda em contato)
Para a captação de imagens está buscamos utilizar os recursos já disponíveis em CC (Creative Commons). Alguns elementos da produção de produção, tanto imagens, quanto ilustrações foram desenvolvidas pelo próprio grupo. Assim como o audiovisual, o idioma português foi adotado como padrão para o material em PDF. Utilizando um visual e uma linguagem voltados ao público alvo primário (Universitários em seus primeiros semestres, normalmente entre os 16 e 20 anos), a obra contou com um visual apelativo a imagens, discussões e possibilidade de interação (como sugestão de leituras, reportagens, anúncios, etc.)
De periodicidade única, o recurso apresentado tem como base ser um material de revisão de estudos. Pretendeu-se expandir os horizontes do aluno, faze-lo estabelecer uma linguagem mais crítica e reflexiva perante ao que lhe é apresentado.
DESCRIÇÃO DO PROCESSO
Atividades semanais incluindo metodologia e técnicas utilizadas
Nossas atividades foram presencias, a metodologia utilizada foi na pré-produção, produção e pós-produção. Com encontros presencias no estúdio 21, onde realizamos as gravações dos offs, vídeos e produzimos algumas das imagens, também foi realizada a edição das fotografias com a manipulação e tratamento das mesmas. a sala disponível Lappe, não era a apropriada pois as maquinas não tinham os softwares necessários para a edição, havendo da mesma forma dificuldades em conseguir os horários de disponibilidade para edição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE:
14.1 Os resultados obtidos
O projeto veio ao encontro dos ideais que possuíamos em relação à predisposição da literatura escolhida sobre o olhar da semiótica, bem como da confirmação da intuição inicial de que um dos caminhos para se alcançar o conhecimento parte de relações cognitivas onde o visual se alia ao sonoro de uma forma interativa e coerente com o todo do conteúdo.
Por mais que tenhamos tido múltiplas dificuldades e em parte tenhamos excedido as 120 horas disponíveis na cadeira, isto é, trabalhando até mesmo em sábados e horários extras além dos disponibilizado na cadeira, contamos que o projeto foi importantíssimo para o aperfeiçoamento e aplicações em nossas vidas como acadêmicos e pessoas, justamente em função de sua dificuldade, de modo que aprendemos a trabalhar cada vez mais em grupo. Neste trabalho operacionamos todas as engrenagens mentais que dispúnhamos, tendo estas servido para a formação do projeto e do conteúdo, proporcionando a nós um resultado satisfatório e esperado.
Assim, a experiência adquirida com o projeto é demarcada por um acréscimo de esperança no cerne de cada membro, que agora munido de confiança, é capaz de planejar ações futuras. Por fim, a experiência prática em termos de construção e edição do render final também foi de grande valia, assim como o trato com os profissionais e expertises, onde foi inegavelmente enriquecedor.
14.2 Indicadores de Avaliação dos usuários\pré-teste
Por principais indicadores de avaliação temos a aprovação do Adair Peruzzolo e do professor Fabiano Maggioni. Os comentários dos professores nos deram a segurança necessária para veicular o conteúdo e dar continuidade com as gravações. Os indicadores de avaliação limitam-se a isso porque de fato não tivemos tempo de aplicá-lo aos alunos da FACOS e a outros indivíduos de diversas áreas de interesse.